segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Juramento de Infidelidade


Poderá agora lê-lo baixinho ou apenas para dentro. Mas mais logo, quando estiver sozinho e não sentir vergonha, experimente jurar infidelidade lendo o texto em voz alta e afirmativa

Juro ser infiel ao achar que as coisas acontecem sempre da mesma forma
Juro ser infiel à desculpa da falta de tempo
Juro ser infiel ao julgar antecipadamente de uma forma negativa
Juro ser infiel ao medo de arriscar
Juro ser infiel às discussões circulares
Juro ser infiel aos pormenores negativos
Juro ser infiel à impaciência
Juro ser infiel à tendência de evitar o confronto
Juro ser infiel ao pensamento de que tudo me acontece
Juro ser infiel ao medo, à ansiedade e à tristeza
Juro ser infiel à insegurança e à falta de auto-estima
Juro ser infiel ao achar que não mereço qualquer coisa por ser bom demais
Juro ser infiel à solidão

Parabéns! Este foi o primeiro passo. Agora seja infiel aos sentimentos e pensamentos circulares negativos, todos os dias e de todas as maneiras e feitios que inventar. Seja livre no amor.

Juramento de Infidelidade


Artigo publicado na Revista Vida Saudável (Edição: Novembro/2009)
Autoria: Hugo Santos, Psicoterapeuta - Oficina de Psicologia

Desta vez trocámos as voltas ao sentido comum das palavras, apelando ao Juramento de Infidelidade. O objectivo é simples: quebrar amarras, contra pensamentos e sentimentos circulares e negativos. Às vezes é bom ser-se infiel.

Na edição do mês de Outubro, propusemos um exercício interactivo fazendo o convite à sua participação. Aproveitando cinco minutos do seu tempo, a sugestão era primeiro relaxar e descontrair um pouco. De seguida, recordar as suas relações, do presente ou do passado. Nesta viagem pelo baú das memórias, a ideia era pegar num ou noutro fragmento temporal, isto é, recolher uma ou duas fotografias mentais do seu passado relacional.
Por fim, o exercício sugeria que olhasse atentamente para essas memórias, mas sem o papel de personagem da história.
Se olhar para as suas relações da “cadeira de espectador”, conseguirá uma perspectiva diferente. A técnica das “pipocas doces”, numa metáfora cinematográfica, permite-nos um ângulo de visão diferente sobre a nossa própria vida.
É como se fossemos ao cinema ver uma curta-metragem sobre as nossas relações e a forma como amamos.
Dessa cadeira almofadada e confortável, consegue ver muitas repetições? Sente que acabou por estar várias vezes na mesma situação, que ouviu as mesmas frases, que viu o outro fazer as mesmas coisas, mesmo em relações diferentes?
Não se preocupe se conseguir ver ou não. Não se esqueça que o filme é seu e poderá revê-lo as vezes que quiser.

Aceitar e descomplicar
No campo dos afectos existem boas e más repetições. As boas são aquelas que nos transmitem confiança, que nos fazem sentir seguros, dão-nos a agradável sensação de previsibilidade, de continuação e de rotina, e para as quais dizemos “Bis”.
As outras, são réplicas disfuncionais de ciclos que estagnam, que se traduzem numa rigidez, que nos fecham à experiência, à novidade, à acção, que nos sufocam e nos tornam menos, que nos fazem pensar “não foi isto que sonhei”, e que se impõem numa reprodução circular de cansaço e desilusão. Para estas vamos ser infiéis, dizer “Xô”, “vai dar uma volta ao bilhar grande”, “já chega”, “basta”.
A estratégia não é evitá-las, nem “partir a loiça”, mas apenas avançar num processo de aceitação e de consciencialização, descomplicando e desconstruindo automatismos da forma de amar e de viver as relações.

Vejamos na prática e através de exemplos.
O Rui e a Anabela (nomes fictícios) são namorados e vivem juntos há dois anos. Combinaram fazer um serão juntos e irem ao cinema, depois de um jantar romântico. No meio do quotidiano cheio de obrigações, sabe bem um momento a dois.
A Anabela chega a casa antes da hora combinada e começa a arranjar-se. Quer estar bem bonita. Contudo, o Rui telefona-lhe em cima da hora e diz-lhe que surgiu um imprevisto no trabalho. O chefe disse-lhe que tinha que terminar uma tarefa ainda naquele dia, para um cliente importante para a empresa.
Como é que acha que esta história continuaria? Neste pequeno filme revê-se nalguma das personagens?

Outro exemplo: o Carlos é colega de trabalho da Raquel (nomes fictícios) há já bastante tempo. Têm uma boa relação profissional e já tiveram vários projectos em conjunto. Aproxima-se o aniversário do Carlos e este convida a Raquel para ir ao almoço dos seus anos, que vai fazer com outros colegas. A Raquel não quer muito ir. Não lhe apetece. “Se calhar o Carlos só está a dizer isto por obrigação”, pensa. “Nem gosto de algumas das pessoas que vão. Estão sempre a olhar”, continua.
O que é que a Raquel fará? Vê alguma repetição nesta situação?
Os exemplos são muito simples e procuram não levantar muito desconforto ou reactividade. No entanto, retratam uma mínima amostra dos inúmeros momentos das nossas vidas e das nossas relações.

A forma como vivemos os episódios, a leitura que fazemos dos cenários e das deixas, as nossas frases e acções, aquilo que pensamos ou sentimos, muitas vezes repete-se circularmente de forma inconsciente. Sem darmos por isso replicamos medos ou desejos, num novelo de afectos demasiadas vezes emaranhado.
Os erros de percepção podem-se acumular e estagnar a forma de sentir. Quantas vezes catastrofizamos, antecipando o pior cenário, ou generalizamos, partindo logo do pressuposto que se vai repetir? E com que frequência ignoramos aspectos positivos, centrando-nos só no desagradável? De igual modo, a culpa é muitas vezes nossa companheira, na tendência para considerar como nossa a responsabilidade por algo ter acontecido. Ou, no reverso da medalha, apontamos o dedo a dizer “a culpa é tua”, “és sempre assim”, “já sabia”, “já esperava”, quando nos desiludem mesmo em pequenas coisas.

Perante isto, o convite é mesmo quebrar amarras e criar novas e livres formas de amar.
Para tal, deixo-vos um Juramento de Infidelidade, feito por participantes do Descomplicar os Afectos – Relações tornadas simples (um programa de treino de competências relacionais e afectivas, da Oficina de Psicologia).

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Afectos, com Pipocas Doces


Exercício Interactivo

Na próxima edição da Revista Vida Saudável vamos falar sobre os nossos pensamentos e sentimentos automáticos, nos afectos e nas relações.

Se olharmos para as nossas relações da “cadeira de espectadores”, conseguimos identificar histórias pessoais que se repetem.

As histórias com final feliz são para manter e valorizar, mas aquelas que acabam mal são mesmo para mudar.

Eis um simples exercício para introduzir o tema e fazer o convite à sua participação.

Aproveite cinco minutos do seu dia, quando estiver no seu carro, no metro ou no autocarro, a caminho do trabalho ou de outro local e faça o seguinte:

- Primeiro relaxe um pouco e aproveite a viagem. Este momento é só seu e o seu mundo interior é um vasto território que pode explorar confortavelmente.

- Recorde as suas relações, do presente ou do passado. Escolha um ou outro momento, não só negativo mas também positivo. Não vale a pena estragar o dia com recordações apenas desagradáveis

- Pegue nessas memórias e olhe atentamente para elas, como se fosse apenas um espectador (e não uma personagem da história)

- Vê muitas repetições? Sente que acabou por estar várias vezes na mesma situação, que ouviu as mesmas frases, que viu o outro fazer as mesmas coisas, mesmo em relações diferentes?

- Para terminar, faço agora o convite para partilhar as suas ideias e para dar a sua opinião, respondendo às questões:

1. Acha que repetimos muito a forma de amar e de estar nas relações?
Respostas: Raramente – Às vezes – Frequentemente

2. Acha que atraímos sempre o mesmo tipo de pessoas, nas relações?
Respostas: Raramente – Às vezes – Frequentemente

3. Acha que deveríamos ser infiéis a certas formas de pensar e de sentir os afectos?
Respostas: Raramente – Às vezes – Frequentemente


Obrigado pela sua participação.

Um abraço descomplicado,

Hugo Santos
Oficina de Psicologia

Espelho meu, espelho meu, diz-me quem sou eu?



Artigo publicado na Revista Saudável (Edição: Outubro/2009)
Autoria: Hugo Santos, Psicoterapeuta - Oficina de Psicologia

Ao amor e uma cabana juntámos a inteligência relacional. Na sociedade moderna as competências treinam-se, mesmo aquelas relacionadas com a arte de ser feliz com alguém. Nos afectos, como é que eu sou? Como é que eu gostaria de ser?

Os tempos mudam e com o cronómetro das gerações o nosso olhar e a forma de viver vão igualmente mudando. O amor também se transforma e hoje em dia as relações reflectem diferentes formas de expressar e de trocar afectos.

Sem entrar num discurso modernista ou num tom saudosista sobre os “velhos tempos”, parto do bom princípio que a experiência e os novos conhecimentos permitem-nos evoluir na forma como amamos. Aliar a ciência à magia do amor poderá ser uma boa fórmula para a felicidade.

Deste modo, ao amor e uma cabana adiciono a inteligência relacional, como um suplemento vitamínico que poderá revitalizar conscientemente o campo dos afectos.
Ao longo da nossa linha da vida vamos tendo diversas oportunidades e desafios para colocar à prova e para desenvolver a nossa capacidade para criar relações.
Esta competência para nos ligarmos e interagirmos com os outros espelha-se na forma como reconhecemos e compreendemos os sentimentos, e no modo como aplicamos esta informação no quotidiano dos afectos.

O interessante é termos a possibilidade de ir treinando ao longo da vida a nossa inteligência relacional, podendo, assim, mudar a forma como amamos e como nos relacionamos

Perante isto, desafio-vos a olharem para a vossa inteligência relacional, num convite a espreitar para dentro, através do exercício “Espelho meu, espelho meu, diz-me quem sou eu?”.
O exercício é simples e a minha aspiração é traduzir para uma linguagem prática e próxima do senso comum, estes saberes da psicologia.

Comecemos a viagem…

Cada um de nós tem uma imagem de si próprio ao nível dos afectos e das relações, que se espelha nos comportamentos e nas diversas situações do dia-a-dia.
Se abrirmos a base de dados deste “espelho mágico” e fizermos uma pesquisa sobre o que podemos encontrar, teremos uma imensa lista de características individuais, como por exemplo: “Sou bonito”, “Sou Social”, “Sou Simpático”, “Dou mais aos outros do que recebo”, “Tenho medo da rejeição”, “Acho sempre que a culpa é minha”, “Não digo o que penso”, “Sou desconfiado”, “Detesto quando não me ligam”, “Importo-me muito com o que os outros pensam”, entre outros.

Vamos utilizar algumas dessas características.

Pegue, então, numa folha de papel e numa caneta, e escreva no cabeçalho o nome deste exercício: “Espelho meu, espelho meu, diz-me como sou eu”. Não se preocupe porque não vamos entrar em nenhum campo esotérico. Trata-se apenas de uma simples instrução para começar o exercício.

Agora, desenhe por baixo quatro linhas horizontais, com cerca de cinco dedos de comprimento (a bitola é a palma da mão fechada). Deixe algum espaço entre as linhas. Na extremidade de cada uma, escreva em cantos opostos as seguintes características: Pessimista – Optimista, Inseguro – Confiante, Dependente – Independente e Descomplicado – Complicado.

Acabou de criar uma simples escala de avaliação da sua imagem.
Vamos agora olhar para a primeira linha e para as características: Pessimista - Optimista. A linha representa uma escala entre duas características opostas (no centro está o “meio pessimista - meio optimista”, à esquerda está o extremo do pessimismo e à direita o extremo do optimismo).

Pergunte-se: “Como é que eu sou?”, no campo dos afectos. Sem pensar muito (para a resposta ser mais emocional do que racional), coloque um “x” sobre a linha no local que achar que o caracteriza mais.

Coloque agora uma segunda questão: “Como é que eu gostaria de ser?” e novamente, de forma espontânea, coloque um “x” sobre a linha, mas desta vez com um círculo à volta.
Poderá fazer o mesmo para as restantes características (Inseguro – Confiante, Dependente – Independente e Descomplicado – Complicado).

Dou-lhe algumas hipóteses explicativas dos seus resultados: o espaço entre a primeira e a segunda resposta poderá permitir avaliar a distância entre o seu real e o seu ideal. Quanto maior a distância maior poderá ser a insatisfação ou necessidade de mudança. Por outro lado, se a imagem real e a imagem ideal estiverem sempre “coladinhos”, isto é, muito juntos, poderá ser um mecanismo de defesa que não lhe permite idealizar muito.

A regra é simples: não há respostas certas, nem erradas, nem explicações únicas. Neste exercício cada um avalia-se da forma como lhe fizer mais sentido.

Este “espelho mágico” agora é seu. Poderá fazer o exercício quando quiser, nos dias que quiser, e diversificar as características.
Tem agora uma ferramenta simples para avaliar a sua inteligência emocional, ao nível da auto-imagem (imagem de si próprio). Um importante passo para a mudança e para a transformação é a tomada de consciência de como é que somos e de como é que gostaríamos de ser. A bola está agora do seu lado.
Se fizer a pergunta “espelho meu, espelho meu, há alguém mais bonito do que eu?”, eu próprio lhe darei a resposta: “não há”. Porquê? Agora esta resposta é só sua.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Descomplicar os Afectos, no Verão: O tempo de ser infiel à rotina


Algarve Destak - Julho/ Agosto 2009
Entrevista
Jornalista Patrícia Susano Ferreira - Destak

Quais os efeitos das férias e do Verão na vida social e amorosa dos portugueses?
É sobretudo uma oportunidade de refrescar as relações, com uma boa onda de afectos. Nesta altura, o tiquetaque do relógio marca o contratempo dos momentos aguardados. Durante longos meses guardámos na caixinha dos nossos projectos uma série de coisas para fazer nas férias (ou simplesmente para não fazer). E eis chegado o momento em que reconquistamos um precioso bem da modernidade: o tempo.

Temos mais tempo para os outros?
Por um lado, é sinónimo de descanso e de libertação do stress acumulado, e por outro de activação da socialização e dos afectos. Sentimos o calor e as emoções à flor da pele e os nossos sentidos despertam para o mundo lá fora. O nosso espaço de existência alarga as suas fronteiras e aumentam significativamente as nossas interacções, a proximidade com os outros, as trocas, o contacto. Temos a oportunidade e a vontade de estar mais com os amigos, de viver o amor, de dar asas à paixão, de ter novas descobertas e novas experiências. O desafio é a forma como traduzimos para a prática esta oportunidade de mergulhar neste mar de afectos e de relações.

Os portugueses sentem-se demasiado presos às 'paixões de Verão' ou conseguem esquecer rápido?
A paixão e o Verão formam um casal perfeito. Quando se juntam nasce o romance. As histórias de paixão escritas na areia da praia podem ser apagadas pelas ondas, ficando a saudade e uma bonita recordação, ou podem levar ao desejo de cimentar algo mais. Esta incerteza faz parte do encanto.

Este período longe do trabalho e das rotinas pode ajudar a consolidar relacionamentos já existentes?
O Verão dá-nos a oportunidade de viver e de explorar os afectos.
Nas relações esta poderá ser a oportunidade desejada de estar a dois, de ter mais tempo para namorar, para fazer grandes projectos ou pequenos desafios, de nos reaproximarmos e de fortalecer a ligação. Não interessa o local ou o quê, porque são sobretudo as pessoas que fazem os momentos. O que interessa é dançar esta música a dois. E o amor é como andar de bicicleta.

Há quem diga que nos tornamos mais “promíscuos”?
O Sol e as férias trazem o desejo e a vontade, estimulam o olhar para o exterior e despimo-nos de papéis burocratizados. Neste sentido, as pessoas estão mais abertas a iniciar novas relações, a encontrarem novas amizades, a sentirem-se atraídas pela novidade. Mas chamaria a isso a “boa promiscuidade”. Neste impulso para o mexerico dos afectos, as “antigas” relações podem parecer um peso, mas uma relação baseada sobretudo no companheirismo poderá beneficiar apimentando-se com a “boa promiscuidade” do Verão. A paixão renova-se com o desejo e com a insegurança, com o sair da toca e estar aberto a experiências, a sensações, à novidade. E tudo isso pode ser vivido dentro de uma relação já existente. Por isso, a sugestão é mesmo serem infiéis à rotina, ao aborrecimento, ao desentendimento, à repetição.

Mas há aventuras que deixam marcas que custam a passar…
Do mesmo modo que o bronze, aquela cor fantástica da pele, vai passando com o tempo, também as aventuras de Verão vão desaparecendo, quer na intensidade das emoções, quer por trazerem o desencanto ou a desilusão.
Podem sempre ficar boas marcas, quer pelas novas aventuras vividas, quer por nos rirmos dos desaires das férias. Mas se a expectativa era demasiado alta, se a idealização não corresponde de longe à realidade, se estamos presos ao mau humor ou se ficarmos fixados no tempo a suspirar pelo que partiu, pode ser difícil regressar das férias.

O que fazer?
A sugestão é esperar um pouco e ver se esse sentimento desagradável persiste. Entretanto procure relaxar e ir aumentando o ritmo gradualmente. As férias podem ser desgastantes. Depois, se continuar a ser desconfortável regressar à rotina, peça ajuda. O stress pós-férias pode ser um problema.

Que conselhos é que dá aos portugueses para aproveitarem de uma forma mais tranquila o Verão?
Quando estiverem na praia peguem num punhado de areia e sintam o toque agradável dos grãos. Deixem a areia escorrer lenta e suavemente, aproveitando o momento e sem o receio de que vão ficar sem nada na mão.
A ideia é aproveitar os momentos e saborear as boas sensações. Inventem como. Na esplanada, com os amigos, com saídas, em viagem… com mil e uma oportunidades, ou simplesmente com duas ou três. Tanto faz. Desde que seja.

Caixa de socorros psicológica para férias?
Nada como uma bolsa de primeiros socorros para pequenas mazelas emocionais ou contra picadas de pensamentos negativos.
Na mala deverá levar:
- Uns comprimidos para a má disposição e a irritação. Ir para férias já (ou ainda) irritado é começar com o pé esquerdo. A logística pode não ser fácil, mas há-de lá chegar. Tem tempo e pode aproveitar a viagem.
- Um balão de oxigénio para respirar melhor. Se o desconforto emocional já estiver na zona amarela, procure relaxar.
- Um repelente contra ruminações e intrusões de pensamentos automáticos desagradáveis.
- A toalha para se deitar na areia. Se tiver uma fadiga imensa logo no início das férias repare que o corpo está de “ressaca” do stress.
- Um protector solar para não se queimar na exposição a emoções muito intensas e prolongadas. Cuidado com os excessos.

Descomplicar os Afectos no Verão
Na Oficina de Psicologia é responsável por uma edição especial de Descomplicar os Afectos no Verão, que tem um claro sucesso. Os três grupos dos afectos descomplicados estão de parabéns pelos excelentes resultados nesta ambição de tornar as relações simples.
Na Oficina de Psicologia vamos lançar o 4.º grupo do D.A. no dia 23 de Setembro. Para saber mais informações ou para se inscreverem é simples: basta ir ao site www.oficinadepsicologia.com e clicar no Descomplicar os Afectos.

Hugo de Oliveira Santos
Psicólogo Clínico - Psicoterapeuta
Oficina de Psicologia - Psicoterapia para todos
www.oficinadepsicologia.com

sábado, 11 de julho de 2009

Histórias de amor, para sempre!

Desde miúdos que ouvimos histórias de encantar, com magia e reinos de fantasia. Crescemos a sonhar e a imaginarmo-nos príncipes ou princesas de um mundo em que o amor triunfa sempre, e para sempre.

Depois, quando graúdos, confrontamo-nos com a lógica do real e constatamos que às vezes o amor não é bem assim como desenhamos no imaginário.

Experienciamos as desilusões, que nos impõem os tons cinzentos e esbatidos do desencanto, e ecoa na nossa mente o pensamento “não foi isto que eu sonhei para mim”.

Neste princípio da realidade, transformamo-nos cá dentro e aprendemos a lidar com um diferencial de emoções e sentimentos, num repertório mental alargado de esquemas e respostas.

Mas como é que o nosso olhar muda, e de que forma passamos a acreditar/ desacreditar no “Era uma vez”? No nosso “faz-de-conta” como se esboçam os nossos sonhos? Vale a pena?


Ter sorte dá muito trabalho

Há frases que nos ficam na memória. Num destes dias, estava a jantar em família quando ouvi esta frase: “Ter sorte dá muito trabalho”.

A sorte define-se geralmente por algo atribuído externamente, que não controlamos nem comandamos, quase como se fosse o destino. Temos mais ou menos sorte, devido a um factor alfa, que não conseguimos bem definir e passa mais pela crença ou fé.

Introduz-se aqui outro conceito: a sorte que se desenha e que se constrói. Ter sorte ao amor, por exemplo, não vem só do acaso ou das circunstâncias mais aleatórias que surgem, mas passa igualmente por factores que nos envolvem, mesmo que passivamente ou de forma inconsciente.

A opção poderá ser a tomada de consciência dos mecanismos implícitos à nossa sorte, de forma mais intuitiva ou racional.

Ter sorte aprende-se.


Espelho meu, espelho meu, diz-me quem sou eu

O amor define-nos, na intimidade de ser e de estar. O amor que vivemos ao longo da vida, de variadas formas, umas mais suaves outras mais intensas, é parte significativa do nosso auto-conceito, sempre com a necessidade de nos sentirmos especiais.

Como é que eu sou?

Por outro lado, aquilo que somos, define a nossa forma de amar e as relações de afectos que estabelecemos, quem procuramos ou quem queremos.

Este processo dinâmico de amar e ser amado relaciona-se com proximidade com a nossa capacidade e competências afectivas, ou seja, com a nossa Inteligência Relacional.

A forma como reconheço e compreendo os meus próprios sentimentos e os sentimentos dos outros e o modo como aplico esta informação na interacção com as outras pessoas, consoante os contextos e situações, define-se como a arte de ser feliz com alguém.
O amor com inteligência, permite-me sentir e pensar a relação, cuidando-a e inventando-a, numa dança ao sabor dos momentos.


O medo é bom

No consultório, várias vezes acompanhei crianças que simplesmente não queriam crescer. Não lhes fazia sentido estarem a deixar de ser pequenas e protegidas. Crescer era sinónimo de responsabilidade, de dificuldade e de frustração. Para quê crescer? Não lhes parecia haver qualquer vantagem mas apenas custos.

Na verdade, estes meninos e meninas tinham em parte razão. O sentimento era semelhante àquele quando se acorda numa manhã fria e não apetece nada ir trabalhar. A vontade é mesmo ficar na cama, num lugar seguro. Mas “tem que ser”…

Este medo de crescer ou o medo de amar, é bom e existe para nos proteger. As experiências negativas causam mal-estar e angústia interna e o medo é um mecanismo primário de defesa.

Quanto sentimos medo no amor, é porque este preenche alguma necessidade e tem uma utilidade. Está lá como uma armadura ou uma carapaça.



A ideia não será deitá-lo fora nem negá-lo, fingindo que somos independentes e que não precisamos de ninguém, ou sujeitando-nos a tudo para não ficarmos sozinhos.

Citar livremente Bento de Jesus Caraça, trocando a palavra “erro” por “amor”, traz-nos a sugestão: “Se não receio o amor, é porque estou sempre pronto a corrigi-lo”. Acrescentaria, a inová-lo, a transformá-lo, a descobrir novos rumos e novos horizontes.

Ás vezes temos medo de amar e ainda bem. Traz-nos a coragem para crescer e para amar.


Pensar o amor

A força da gravidade nas relações tende frequentemente a alterar a física e a tornar denso e emocionalmente pesado, o estar com o outro.
Os afectos são contaminados por preocupações ruminantes, que fazem girar dúvidas e pensamentos, sem sair do lugar.
Muitas vezes carregamos as relações com problemas, com antecipações de maus cenários, com exigências, com dúvidas, com desconfiança, asfixiando a nosso própria felicidade e a capacidade de amar.
Nesta arquitectura do amor existe um espaço para pensar. Pensar o amor.

Os projectos e sonhos envolvem dificuldades naturais, que podem ser percepcionadas e reflectidas como desafios a dois, que nos permitem fortalecer a união e sentirmo-nos mais próximos.

Pensar o amor é também termos consciência dos nossos pensamentos, mesmo daqueles mais automáticos, do tipo “não consigo ser feliz com ninguém”, “afasto as pessoas de mim quando o que eu quero é o contrário”, “pensei que desta vez é que era mesmo a sério”, ou “ninguém me compreende”.

Jurar infidelidade a estes pensamentos negativos, que nos prendem a mecanismos disfuncionais, promove a possibilidade de um amor consciente e mais livre, com espaço para a aceitação e para o aqui e agora.


Descomplicar os Afectos

No campo do amor e dos afectos, complicar é muito frequente e acabamos por tornar complexo o que é, no fundo, simples.

Aprofundar e (re)aprender novas formas de relação, envolve o conceito de descomplicar ou de desconstruir, para novamente construir, reparar ou melhorar.



Ambicionar o simples, no amor, implica descobrir e conhecer novas técnicas e truques, dando tempo para o treino e para a mudança, começando hoje.

A nossa vida moderna preenchida de estimulação e de informação, real ou virtual, deixa-nos muitas vezes, de forma paradoxal, um vazio na alma.

Num convite a descomplicar, a aritmética dos afectos com lugar para o eu, o tu e o nós, permite multiplicar o bem-estar.
O amor, com ingredientes de paixão e de amizade, está integrado nas nossas vidas, no quotidiano, num convite para moldar e transformar as emoções negativas, em interacções construtivas com os outros.


Afinal, o amor é para sempre e é possível aprender a amar. Descomplicadamente…


Hugo Santos

Psicólogo Clínico